“Você bateu em uma mulher,
Você bateu em uma pedra,
Você desalojou uma rocha,
Isso vai esmagar você.”
(Canção da mobilização das mulheres da África do Sul contra as leis do apartheid que as obrigaram a ter permisões para mover-se)
O Muro do apartheid de Israel não é apenas a maior expressão da opressão, expulsão e desapropriação do povo palestino, mas também um símbolo de um mundo onde um sistema de violência estrutural, baseado em classe, raça e gênero, desenvolve formas cada vez mais cruéis de exclusão, discriminação, assassinato e exploração. Desde 2017, movimentos em todo o mundo estão se unindo no dia 9 de Novembro para construir lutas conjuntas contra os muros da injustiça em todo o mundo.
O projecto colonial de Israel que visa eliminar o povo palestino da sua terra natal e a sua resistência ao apartheid israelense, tem como alvo as mulheres porque elas são fundamentais para a reprodução da própria vida e para a reprodução social e cultural da sociedade e da luta palestinas.
As mulheres palestinas enfrentam humilhação e violência de gênero nos postos de controle militares israelenses, durante ataques noturnos e nas prisões. Os políticos e soldados israelenses apelam ao seu assassinato porque são as mães de uma nova geração do povo palestino. As meninas palestinas são atiradas para as celas da prisão quando destroem a imagem da supremacia masculina de soldados fortemente armados com uma simples bofetada na cara.
Hoje, o governo de extrema-direita de Israel é a instituição mais abertamente sexista, misógina e LGBTQI+fóbica que o regime do apartheid alguma já teve.
As mulheres palestinas enfrentam todo o peso da opressão israelense na mira de um sistema multifacetado de repressão racista, colonial e patriarcal. No entanto, a sua luta contra a violência de gênero israelense também capacitou as mulheres palestinas para desafiar as estruturas patriarcais e as violências que persistem na sociedade palestina.
A luta das mulheres na Palestina é a espinha dorsal da sumoud (resiliência) e da resistência palestinas. Elas mantêm as famílias unidas e as sustentam quando os pais e irmãos são mortos ou presos e suas casas são demolidas. Lutam pelo direito à água, à educação, à saúde e por todos os outros aspectos que compõem o direito à autodeterminação. Elas tomam a palavra e estão presentes nas ruas e nos campos. Enfrentam os soldados israelenses, o militarismo e a repressão de inúmeras maneiras.
As mulheres são também pilares da solidariedade palestina e das lutas pela justiça social em todo o mundo. No entanto, as suas histórias, as suas vozes, os seus modos de resistência são muitas vezes silenciados e escondidos atrás de um muro de supremacia masculina.
É aqui que nossas lutas se unem. Juntas não podemos apenas acabar com a impunidade daqueles que violam a nós, aos nossos direitos e a nossa terra. Também podemos construir um mundo de liberdade, justiça e igualdade.
Queremos partilhar as experiências, histórias, vozes e lutas das mulheres na Palestina e em todo o mundo.
Queremos promover a solidariedade entre as mulheres porque a solidariedade é uma questão feminista e porque a Palestina é uma questão feminista. Como disseram os movimentos de mulheres palestinas no seu histórico apelo unificado:
“No espírito de uma visão feminista inclusiva que luta pela justiça racial, social e económica, […] Apelamos a todas as mulheres e feministas de todo o mundo para que permaneçam do lado certo da história e se juntem ao nosso movimento de BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções ). A justiça é sempre uma agenda feminista.”
Queremos dedicar o Dia Global de InterAção por um Mundo sem Muros deste ano – 9 de Novembro – para derrubar os muros do patriarcado e construir pontes de solidariedade activa com a Palestina.
Queremos unir nossas lutas e trabalhar juntas para:
- Destacar, analisar e denunciar as estruturas de género do apartheid, colonialismo e da ocupação militar israelense.
- Colocar em primeiro plano o papel das mulheres na luta palestina e nas lutas pela justiça social em todo o mundo.
- Ressaltar que a Palestina é uma questão feminista e construir lutas conjuntas contra os muros do patriarcado.
- Construir ações concretas contra a cumplicidade global com o apartheid israelense, desenvolvendo campanhas BDS.
“Muros virados de lado são pontes.” (Ângela Davis)